O verde dos Açores encanta todos os que nos visitam. De qualquer um dos muitos miradouros espalhados pelas ilhas se podem contemplar as mantas quadriculadas das extensas pastagens, as grandes manchas de floresta de criptoméria, as moitas de hortênsias bordejando os campos e as estradas. O verde escuro do milho contrasta com o verde fresco do pasto e com o verde amarelado das áreas por onde as vacas já passaram.
Não espanta por isto que o Plano de Ordenamento Turístico da Região Autónoma dos Açores considere imperativa a consolidação da imagem da Região como destino de fruição da natureza, e que a expressão “Certificado pela natureza” seja invocada na recentemente criada Marca Açores.
Quando as ilhas foram descobertas, também eram extraordinariamente verdes. Gaspar Frutuoso descreve assim como a Ilha de São Miguel apareceu aos primeiros navegadores: “Estava esta ilha, logo quando se achou, muito cheia de alto, fresco e grosso arvoredo de cedros, louros, ginjas, sanguinho, faias, pau branco e outras sortes de árvores, e em alguns lugares estavam espaços de serra cobertos somente de cedros e outros de louros, outros de ginjas, outros de sanguinhos e alguns de teixos, outros de pau branco e outros de faias”.
Mas este era um verde diferente, de espécies nativas muitas delas endémicas. Apenas 16% da área dos Açores está hoje coberta por um verde que se aproxima do original. Embora protegido legalmente, o verde visto por Gonçalo Velho está hoje encurralado pelo verde-deserto das pastagens e florestas de produção e ameaçado pelo verde-carnívoro das espécies invasoras.
A política agrícola e florestal dos Açores tem que se desligar dos modelos de produção intensiva e da economia de exportação para que o verde original, o verde dos cedros, dos louros e dos sanguinhos possa de novo respirar. Essa é a natureza dos Açores, é essa que vale a pena pagar para ver.
José Azevedo
Candidato do LIVRE/TEMPO DE AVANÇAR pelos Açores