domingo, 2 de agosto de 2015

"Aquacultura nos Açores: o bom e o melhor", por José Azevedo

No dia em que o Governo anuncia um pacote de incentivos que visa cativar potenciais investidores para a aquacultura na região, registo como muito positiva a intenção de maximizar os respetivos benefícios económicos e sociais (esperando, por exemplo, o envolvimento do setor piscatório) e de salvaguardar eventuais impactos ambientais (nomeadamente evitando a introdução de espécies exóticas).

Para além destes aspetos gostaria que uma eventual implantação da aquacultura nos Açores salvaguardasse também questões mais globais de justiça social e de sustentabilidade ecológica.
Muitos projetos de aquacultura são implantados como franquias multinacionais, com base em conhecimento e equipamento importados. Vocacionados para a produção em grande escala, e com uma forte componente de importação dos fatores de produção, o seu benefício para as regiões de acolhimento traduz-se em pouco mais do que a criação de alguns postos de emprego pouco qualificado. A instalação destes projetos é atrativa porque permite executar as verbas disponíveis nos sistemas de incentivos e têm numa fase inicial um impacto económico apreciável.  A médio prazo, porém, muitos encerram ou mantêm-se graças a intervenções públicas que drenam recursos que poderiam ser melhor utilizados noutros setores.

Gostaria por isso que os apoios governamentais ao desenvolvimento da aquacultura fossem dirigidos sobretudo a projetos endógenos, de pequena e média dimensão mas de alto valor acrescentado, que fixassem conhecimento na Região e aqui crescessem de forma orgânica e sustentada.
Na vertente ecológica deve ter-se em conta que, ao contrário da intuição popular, muitas instalações de aquacultura têm um impacto ambiental superior ao da pesca que é suposto substituirem. Basta ver, por exemplo, que um terço da biomassa pescada a nível mundial se destina à produção de rações para aquacultura de peixes. Por um lado, isto implica que a aquacultura aumenta o esforço de pesca, em vez de o diminuir. Ao mesmo tempo, a prática de alimentar peixes com peixes constitui um desperdício pouco justificável de recursos: para produzir um quilo de peixe é necessário utilizar 2 a 5 quilos de peixe selvagem. É como vender carne de cães alimentados a frango: para que uma pessoa coma uma refeição de cão, várias outras ficam privadas de comer frango.

Na avaliação dos projetos de aquacultura a implementar nos Açores gostaria por isso que fossem tidos em conta critérios ecológicos de âmbito global, de modo a aliar o benefício para a Região a uma contribuição para a sustentabilidade planetária.

José Azevedo
Candidato do LIVRE/TEMPO DE AVANÇAR pelos Açores