sábado, 15 de agosto de 2015

Entrevista ao Diário Insular por Pedro Alves

Entrevista ao cabeça-de-lista Pedro Alves publicada no Diário Insular de 15 de Agosto.
 
Diário Insular - Quais as principais propostas da candidatura do “Livre/Tempo de Avançar” à Assembleia da República para os Açores?
Pedro Alves - Esta pergunta é frequente nos Açores, mas devo salientar que em Outubro vamos eleger deputados à Assembleia da República. Um deputado eleito representará o país e não apenas os Açores. O debate político honesto deverá incidir na realidade do país. Claro que compreendo que é fácil ceder à tentação do regionalismo, sobretudo aqui onde temos uma forte identidade açoriana. É muito tentador sem dúvida, em tempo de eleições legislativas prometer mundos e fundos a todos os açorianos, passear por associações e instituições, empresas e cooperativas, com todo o tipo de discursos e preocupações de quem nos vai salvar a todos. Mas não estamos a falar de eleições regionais. Nesse tempo, será fundamental discutir programas para os Açores. Agora, o recurso ao discurso de salvadores dos Açores parece uma escolha de campanha fácil, mas enganosa, que entre outras coisas pretende evitar o embaraço de debater as posições dos respetivos partidos a nível nacional. Conhecemos o caso de candidatos que tiveram de assinar um acordo onde se comprometem a alinhar-se com as decisões do partido nacional, sob pena de abdicarem do cargo. Como se pode falar de propostas regionais nestes casos? O Livre/Tempo de Avançar (L/TDA) rege-se pela Agenda Inadiável, criada por cidadãos e subscritores do movimento e que define 10 prioridades para o desenvolvimento do país como: renegociar a dívida, criar mecanismos de resgata para pessoas e empresas e libertar o estado da captura privada (suspendendo e revendo as privatizações feitas até ao momento). A Agenda Inadiável pode ser consulta na íntegra no site do L/TDA. É crucial ir além da lógica Açores contra Lisboa. Não se pode construir um futuro nesta constante luta de interesses, deve antes criar-se um alinhamento de interesses e legislar e governar no sentido de potenciar a satisfação das necessidades de ambas as partes. Dou um exemplo, a questão da mineração do fundo do mar dos Açores, pouco ou nada discutida. Uma vez que se inicie a exploração do fundo do mar, o impacto ambiental negativo afetará não só a região como todo o país. Este tema deve ser discutido a nível regional mas também a nível nacional, o interesse é comum, o mar é uma das maiores riquezas do país, não podemos permitir que uma empresa estrangeira destrua esta riqueza. É fácil fazer a política da promessa, mas é necessário coragem para fazer política honesta. Ilusões podem trazer votos, mas não melhoram o país.
 
Apresentação dos candidatos em Ponta Delgada a 21 de Julho
 
DI - O que é para a vossa candidatura um bom resultado, nos Açores, nas eleições legislativas?
PA - O maior objetivo é a eleição de um deputado pelo círculo dos Açores. Porém, a nossa motivação não é apenas essa. Pretendemos renovar o debate político, e o modo de fazer política. Relembro que os candidatos pelo L/TDA são cidadãos e cidadãs que se apresentaram a uma eleição primária aberta à votação de todos (subscritores ou não), sendo seriados pelo número de votos e tendo em conta a paridade de género. Daqui resulta que, sendo candidatos Livres, sem interesses ocultos, nem representando lobbies, temos a liberdade de consciência e a independência que nos permite corajosamente trabalhar em prol do bem-estar de todos. Pretendemos ser um exemplo de uma política transparente, realmente democrática e acima de tudo honesta.
 
DI - Estamos numa altura em que volta a estar na agenda a necessidade de reformar a Autonomia. Qual o vosso compromisso para a discussão deste tema no parlamento nacional?
PA - Este discurso em tempo de eleições pretende acordar o espírito de orgulho açoriano. É fácil convencer as pessoas a votar num partido que enaltece e defende a glória da Autonomia. Mas falamos de que Autonomia? Será Autonomia quando existe uma enorme dependência de fundos de financiamento externos para as grandes obras, para a criação de emprego e para manter viva a economia? Bastaria fechar a torneira de Bruxelas por uns meses para se ter noção da consistência da Autonomia açoriana. Manda quem paga, quem financia é quem governa. Sim, a região deve ter muito mais Autonomia, deveria até ter a soberania de um país. Mas como sabemos, já nem na zona Euro existe soberania nacional. A Autonomia, ou melhor, a verdadeira independência dos Açores só será conquistada com base na independência financeira. Só quando a região gerar a sua riqueza, e existir financeiramente sem depender de subsídios para viabilizar as exportações e a criação de emprego, poderemos realmente falar em Autonomia. Até lá, temos a Autonomia da criança, que decide se come pão com queijo ou com fiambre, mas são os pais que decidem que é pão com queijo ou com fiambre e não outra comida qualquer. O nosso compromisso é de participar e alertar para a urgência de tornar sustentável a economia açoriana.
 
DI - O impacto da redução militar norte-americana na Base das Lajes já se faz sentir na ilha Terceira. Qual considera dever ser a posição da República para mitigar estes efeitos?
PA - Por um lado, infelizmente a questão parece perdida. Quem vai ordenar ao Império que fique, se ele não quiser ficar? Quem vai negociar com Golias? Prometem-se mundos e fundos, e quando o inevitável acontece pelo menos fica-se bem na fotografia “Eu fiz tudo o que podia”. E é melhor que o façam, serviço público é isso mesmo. Mas esta questão põe a nu a fragilidade da economia da Terceira e dos Açores. O Império decide abandonar-nos, e assim ficamos a chorar para que voltem. Revela também a tendência de planear o desenvolvimento económico com vista apenas nas eleições seguintes. Não há plano de desenvolvimento a longo prazo ou uma clara visão de futuro. Nunca ninguém se lembrou que isto poderia acontecer? Existe muita preocupação com esta questão, mas e os milhares de desempregados que tem deixado a região nos últimos anos? Não será a emigração nos Açores de igual preocupação? E não será o endividamento das empresas açorianas um problema ainda maior? O que acontecerá quando terminarem as Revitalizações num mercado ainda em recessão? Mais uma vez, escolhe-se um tema de campanha fácil de modo a ganhar votos com a imagem do herói salvador. Contem connosco, sim, para as questões de fundo e para traçar um rumo de sustentabilidade financeira e ambiental.