sábado, 1 de agosto de 2015

"As Eleições do Medo e da Mentira", por Pedro Alves

Dizem-nos que não temos escolha, que já não há alternativas. Algures no passado, todos nós enquanto nação cometemos um pecado capital. Pecado esse que agora nos condena a crise sem fim, e a austeridade punidora e autoritária. Somos criaturas desregradas e selvagens que merecem ser regidas a mão de ferro, sem direito a protesto. O pior tipo de aprisionamento e opressão é aquele em que a pessoa já nem se dá conta de que existe alternativa e de que está realmente prisioneiro. A nossa prisão não tem paredes nem grades, mas tem austeridade e impossibilidade financeira. Tem falta de esperança, e apesar de pintarem uma cenoura à frente do burro, ela só serve para manter a besta em andamento. 

O discurso do medo e da desgraça é sempre quem vence as eleições. É duro constatar esta realidade. Os debates políticos, os comentários, as opiniões sobre a realidade política do país tem sempre inerente a lógica do medo e do susto. “Aí de ti se não votas em nós”. “Se votares PSD/CDS ou PS vai tudo bem, mas aí de ti que votes noutro qualquer partido radical ou extremista que nos vai levar para a ruína”. “Olha para os gregos, desgraçados por um governo radical”. A manipulação pode ser subtil, mas está lá, e na verdade uma vez que se começa a entender a psicologia usada para manipular a opinião pública, torna-se impossível tolerar o discurso. Sim, o exemplo Grego não é inspirador. Mas será mais radical o Syriza que pretende dar uma vida mais digna ao povo grego, ou o governo alemão e outros membros do Eurogrupo que não permitem qualquer alternativa às suas ideias, mesmo quando elas deram provas de serem cruéis e estarem a destruir um país? 

Infelizmente no fim, vence o medo, o pânico da desgraça. É o instinto primitivo de sobrevivência que vota e que elege o governo. É a tática do eterno inimigo. Há sempre um papão assustador para nos devorar, mas felizmente existem os salvadores que nos irão proteger e nutrir se apenas votarmos neles. Claro que na realidade os que se apregoam de salvadores são eles próprios o papão. De dia vestem-se de nobres e honrados e pela calada quando ninguém olha, vestem a máscara e saem à rua pilhando e semeando o medo. O poder já não é instituído por um deus, rei ou pelo poderio militar. Hoje, o poder é instituído pelos grupos financeiros que imprimem as notas das quais todos dependemos. É um jogo de monopólio viciado onde só podemos perder. 

Acredito que a luta começa na mente de cada um de nós, onde nos devemos libertar do medo e das mentiras que nos querem fazer crer. Cada um de nós que se ergue em coragem para construir um país de justiça e de verdade é mais um que vota em sensatez corajosa. O medo e a desinformação podem ser as estratégias de quem quer governar em segredo e em mentira, mostrando uma folha azul dizendo a todos que é amarela. Vão dizer aos desempregados de longo termo e aos emigrantes que o país está melhor. Sim, o país está melhor, mas não para o coletivo, o país está melhor para o grande capital que consolida os lucros e a sua hegemonia. 

A mudança está nas nossas mãos, quanto mais vamos sofrer, quanto mais vamos deixar que nos castiguem por algo que não fizemos? Sensatez corajosa é buscar a verdade e seguir os factos onde eles nos possam levar. Viver em negação de nada nos ajuda. Encarar a realidade é perceber que sistematicamente elegemos governos cujo único propósito é servir o grande capital, os atos assim o demonstram (o governo endivida o país para resgatar bancos privados que foram à bancarrota por corrupção e outras jogadas sem qualquer ética). 

Palavras são vãs, mas os atos falam por si. O que dirão de nós como povo os nossos atos e escolhas nas próximas eleições de Outubro? 

Pedro Alves
Cabeça-de-lista pelo LIVRE/TEMPO DE AVANÇAR pelos Açores