A Sata é uma das bandeiras dos Açores. Parece-me ser este um lugar comum. É um dos principais empregadores da região, elo de ligação entre as 9 ilhas, mecanismo fundamental para a redução do isolamento e, não menos importante, ponte de referência entre o arquipélago e a diáspora espalhada no norte do continente americano ou em Portugal continental.
Há 3 décadas que sou passageiro regular da Sata, gosto da companhia e reconheço a sua mais valia para a região. Contudo, sempre tive dificuldade em perceber algumas opções de gestão ou estratégia comercial. Ao contrário do que vou lendo por aí, nas linhas dos defensores da coligação e sua sede de privatizações, eu não acho que a gestão se divida em pública e privada. Para mim resume-se a boa ou má. Nada mais. Nunca percebi, por exemplo, como podia uma companhia que operava em regime de monopólio apresentar prejuízos?
A Sata, à escala mundial, é uma pequena companhia. Opera apenas 13 aviões, 6 deles de curto alcance e pequenas dimensões. Tem mais de 1200 funcionários (dados disponíveis no site da companhia) e, segundo escrevia o Diário Económico em Março de 2015, acumulou prejuízos de 20 milhões no último ano, fazendo a sua dívida subir para perto dos 200 milhões de euros. Não sendo um especialista em economia, parece-me que estamos num cenário preocupante. Poucos aviões, tarifas elevadíssimas e, ainda assim, um buraco financeiro assinalável. Difícil de compreender, diria.
Por outro lado, e não sendo esta a posição mais fácil de defender, eu também não acho que a manutenção do monopólio fosse a solução. Desde logo porque a abertura do mercado beneficia o consumidor, depois porque a redução de tarifas beneficia o turismo da região (as estatísticas de Maio e Junho são elucidativas) e por fim, porque o regime de concorrência obriga a Sata a ser competitiva e a reestruturar-se. Ganham desde logo os passageiros e, a meu ver, também a companhia no médio prazo.
Seria interessante se todos soubéssemos para onde eram canalizados os lucros na altura do regime de monopólio. Os sucessivos governos regionais de PSD e PS talvez pudessem dar uma ajuda na explicação, mas, na dúvida, aguardemos sentados. Também era bom que olhássemos com alguma atenção para as constantes avarias que vão acontecendo na operação deste verão, que obrigam passageiros a ficar em terra, em hotéis ou a viajar em aviões fretados a outras companhias. O relatório de contas de 2016 certamente terá esse reflexo. A Sata não pode deixar de ser uma companhia segura. A credibilidade começa aí.
Há solução para a Sata ser viável? Sim, claro que há. Mas é preciso não insistir no erro e, de uma vez por todas, acabar com os hábitos instalados. Os açorianos agradecem.
Tiago Franco
Candidato do LIVRE/TEMPO DE AVANÇAR pelos Açores